Termo servirá como garantia do cumprimento
de ações e prazos por parte da empresa dona do lixão de Padre Bernardo.
Apesar dos 19 dias de inação, a empresa
proprietária do lixão Ouro Verde, em Padre Bernardo, afirmou que a partir de
agora vai agir para controlar e reduzir os danos ambientais causados pelo
desmoronamento de uma pilha de lixo, que contaminou o córrego Santa Bárbara e o
Rio do Sal, no último dia 18 de junho. Diante da promessa, a secretária de
Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), Andréa Vulcanis,
propôs a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para garantir
que compromissos e prazos sejam devidamente cumpridos.
A decisão foi tomada na manhã de
segunda-feira (7), durante reunião de alinhamento com representantes dos órgãos
que compõem o gabinete de crise criado em razão do episódio (ICMBio, Corpo de
Bombeiros, prefeitura de Padre Bernardo e Defesa Civil), bem como a Polícia
Civil e Ministério Público Federal. Toda a reunião foi acompanhada pela
imprensa e transmitida ao vivo no canal do YouTube da Semad (confira).
Vulcanis explica que a assinatura do TAC
serve como uma espécie de garantia de que a empresa cumprirá com suas
responsabilidades dentro de prazos estabelecidos. Isso porque, desde que o
desastre aconteceu, há quase 20 dias, a empresa pouco tem agido para lidar com
a situação, obrigando o Estado a intervir no comando de ações de reparação dos
impactos ambientais.
“Isso precisa ser assinado de hoje para
amanhã. Não havendo resposta, nós vamos assumir, porque nós precisamos tomar
essa decisão. Era pra tomar essa decisão hoje, mas como vocês (da empresa Ouro
Verde) estão se posicionando de que a empresa vai assumir, estou sugerindo da
gente assinar um TAC preliminar”, afirmou a secretária.
Representada pela advogada Ana Carolina
Malafaia, a equipe jurídica da empresa concordou com a assinatura do TAC e
informou que algumas das respostas que já foram exigidas pelo gabinete de crise
serão repassadas até o dia 9 de julho. “Cronograma de ação, o prazo que vai ser
preciso, a forma de atuação, o que a empresa está fazendo para fazer a
remediação, enfim, isso tudo já está praticamente pronto, isso já está sendo
levantado”, disse a advogada.
A secretária reforçou que “não se trata de
uma questão de penalidade, mas sim de ação”, já que o lixão pertence à empresa
e, portanto, cabe a ela arcar, com a agilidade devida, com todas as
consequências ambientais, sanitárias e sociais causadas pela operação ilegal
que acontecida no local. Segundo Vulcanis, para que isso ocorra, a Semad e
todos os órgãos que compõem o gabinete de crise se colocam à disposição para o
diálogo e trabalho integrado.
‘Desastre
sem precedentes’
- Vulcanis afirmou que o desastre ocorrido em Padre Bernardo é o maior já
enfrentado por ela à frente da Semad desde 2019 e, provavelmente, a maior
tragédia ocorrida em Goiás desde o Césio-137, em 1987. Isso porque, o córrego
Santa Bárbara e o Rio do Sal foram completamente contaminados pelos resíduos,
afetando diretamente famílias da zona rural da cidade, que faziam uso da água
para agricultura, criação de peixes e consumo.
Existem ainda outros agravantes, como a
existência de lixo hospitalar no local, a contaminação do solo, a transmissão
de doenças por conta de moscas e outros animais que circulam a área do lixão, o
risco de novos desmoronamentos a partir da chegada do período chuvoso e, ainda,
chances de que a água contaminada atinja outras bacias hidrográficas.
“Sem dúvida nenhuma, é o maior (desastre)
que a gente já enfrentou nessas condições. É claro que a gente sabe que em
Goiânia tivemos o problema do césio, que era um problema muito grave também,
causou mortes, impactos ambientais graves, mas do ponto de vista de meio
ambiente, de contaminação do território, de afetação da população, é um dos
maiores acidentes que a gente já enfrentou”, afirmou a secretária
O que
a Semad já fez no lixão? - Em razão da absoluta inércia dos donos do lixão, a
secretária Andréa Vulcanis anunciou no dia 30 de junho que a Semad iria
intervir no controle e mitigação dos danos ambientais causados pelo desabamento
de uma montanha de lixo.
Com isso, abriram-se duas frentes de
trabalho: administrativa, com a contratação de máquinas e equipe emergenciais
especializadas para atuarem no local; e outra em campo, com a execução de ações
que a Ouro Verde deveria ter realizado.
Já no dia 1º de julho foi iniciada a
transposição do córrego Santa Bárbara. A operação foi executada com auxílio de
uma motobomba, com capacidade para bombear 50 metros cúbicos por hora. A água
foi succionada em um ponto do córrego anterior ao desastre (à montante) e
devolvida em um ponto posterior ao desabamento (à jusante). O esforço dos
servidores envolvidos foi o de succionar a água no ponto mais distante possível
do desmoronamento, com objetivo de devolvê-la ao leito do córrego com níveis
menores de contaminação.
A motobomba foi disponibilizada pela
empresa, mas quem teve de descê-la pela grota foram servidores do ICMBio, da
Semad e da prefeitura de Padre Bernardo. Utilizou-se técnica de rapel para
fazer a máquina chegar à zona quente.
“Lembrando que a área é de difícil acesso e
com risco ainda aos operadores. Mas é um serviço que tem que ser feito diante
da janela de trabalho que nós temos de aproximadamente mais dois ou três meses,
antes do período da chuva”, complementou o gerente de gestão e prevenção de
incêndios e acidentes ambientais da Semad, Sayro dos Reis.
Em paralelo ao bombeamento de água,
tratores que a prefeitura conseguiu contratar depois do decreto de estado de
emergência estão sendo usados para abrir um acesso na margem à esquerda da
pilha de lixo que desabou na grota (com o consentimento de proprietários rurais
vizinhos ao lixão). Será a partir desse acesso que os caminhões vão tirar os
resíduos que caíram no vale.
A terra removida na abertura do acesso está
sendo utilizada na construção de uma barreira de metros depois do local do
desmoronamento. Essa barragem tem o objetivo de evitar um novo carreamento de
lixo e de chorume se eventualmente a pilha de resíduos ceder. Toda a água do
córrego succionada pela motobomba está (e continuará sendo) devolvida ao leito
depois da barragem.
Uma segunda motobomba, cedida por uma
empresa sucroalcooleira de Goianésia, está a caminho de Padre Bernardo para
auxiliar na transposição. A capacidade dela é de 150 metros cúbicos por hora,
ou seja: três vezes acima da bomba que no momento faz o trabalho sozinha.
Futuramente, depois que a crise emergencial for resolvida, a ideia é de fazer
um desvio físico e definitivo para o córrego – que não passe pela área
contaminada.
A Semad também faz o monitoramento de água
do córrego Santa Bárbara e do rio do Sal, que era usada por agricultores da
região. A Semad proibiu o uso desse recurso hídrico até que cesse a
contaminação e a prefeitura, em paralelo, providenciou o abastecimento dessas
famílias com a distribuição de galões de 20 litros e com caminhões-pipa.
Fonte: Mais Goiás