Durante
quase todo o mandato do marido, Michelle Bolsonaro fez questão de se manter uma
primeira-dama discreta. Avessa à imprensa e aos holofotes, não dava
entrevistas, não participava de reuniões ministeriais, não tinha ingerência
sobre o governo e não fazia uma superexposição da rotina familiar nas redes
sociais. Com um gabinete no Palácio do Planalto, ela tinha atuação restrita à
condução de programas destinados à população vulnerável e à inclusão de pessoas
com deficiência, temas centrais de seus raros pronunciamentos.
Em meados
de 2022, a postura mudou radicalmente. A campanha de Jair Bolsonaro detectou
que a resistência das mulheres, uma massa de 53% do eleitorado nacional, era um
dos fatores que colocavam em risco a reeleição do então presidente, acusado
frequentemente de misoginia. Era necessário um choque de imagem para reverter a
situação. Foi aí que Michelle saiu das sombras e emergiu como um trunfo
eleitoral pela primeira vez. Na época, ela foi a estrela da convenção que
sacramentou a candidatura de Bolsonaro para mais um mandato.
Diante da
militância, fez um discurso recheado de elogios ao companheiro “lindo” e de
forte apelo religioso. Evangélica, chamou os apoiadores de “irmãos” e citou a
palavra Deus 27 vezes. Depois, mergulhou na disputa e fez um giro pelo país
pedindo votos para o presidente. Por onde passava, era ovacionada. O desfecho
da campanha é conhecido. Bolsonaro não se reelegeu, recolheu-se em profunda
tristeza no Alvorada e, antes de passar a faixa para Lula, embarcou para uma
temporada nos Estados Unidos. Michelle só acompanhou o marido por menos de um
mês, retornou a Brasília no início de 2023 e oficializou seu ingresso na
política partidária ao assumir o comando do PL Mulher.
Desde
então, as carreiras dos dois tomaram rumos diferentes. Ele ficou inelegível,
tornou-se réu por tentativa de golpe e corre o risco de ser condenado à prisão.
Ela está em franca ascensão, consolidou-se como um ativo eleitoral e aparece
com bom desempenho nas pesquisas, inclusive em cenários em que duela com Lula.
Ciente de suas dificuldades pessoais e do potencial da esposa, Bolsonaro
resolveu lançar mão de Michelle mais uma vez como trunfo eleitoral. Por
enquanto, apenas como uma forma de ele mesmo continuar com as rédeas do jogo.