O início dos trabalhos do Consórcio Limpa Gyn em Goiânia se deu em 23 de abril de 2024. Um ano depois, o serviço ainda é alvo de críticas de moradores e cooperativas de material reciclável pela irregularidade e ineficiência. A entrada da empresa, em substituição à Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), se deu em um contexto de que a gestão municipal à época afirmou, até mesmo judicialmente, que a companhia não tinha capacidade de realizar os serviços e que, por isso, a capital convivia com as chamadas "crises do lixo", em que as coletas deixavam de ser realizadas até por 30 dias. Com a terceirização, os moradores apontam melhoras, mas ainda muito aquém do que deveria ocorrer.

"Parece que eles ainda estão em transição, mesmo um ano depois", relata Dulce Helena do Vale, a presidente da Cooper Rama, uma das 13 cooperativas cadastradas na Prefeitura para o recebimento do material reciclável coletado atualmente pela Limpa Gyn. Em novembro passado, um mês depois de a terceirizada passar a atuar 100% na coleta seletiva, as cooperativas foram ao Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) e ao Tribunal de Contas do Estado de Goiás (TCM-GO) para reclamar do modelo de atuação da empresa, que havia modificado as rotas, dias e horários do serviço sem aviso à população, o que reduziu o volume coletado de material reciclável.

Além disso, deixaram de ser usados caminhões do tipo baú, que protegiam o material dos desgastes naturais e da chuva. Na época, as cooperativas relataram uma perda de 80% no material recebido. Segundo Dulce Helena, atualmente esse índice chega aos 50%. "Se antes, com a Comurg que já era ruim, a gente recebia dez viagens diárias, agora a gente recebe umas quatro. Se não melhorar isso, as cooperativas vão fechar as portas e não vai demorar muito. Estamos tendo de ir buscar material, o que aumenta o custo, e ainda perdemos aqueles do dia a dia, como as garrafas PET das casas", conta ela. Segundo explica, embora haja mais caminhões-baú, as rotas e horários ainda não estão ajustados. "Se antes passavam segunda a noite, agora já não é mais. Pode ir em qualquer setor, no dia de coleta domiciliar, o que mais tem na rua é material reciclável, porque está no dia errado."

Presidente da Associação dos Moradores e Comerciantes do Jardim América e Nova Suíça, Eduardo Kleber Xavier Lemos, afirma que sobre o Limpa Gyn só tem reclamação. "Eu cheguei a fazer um levantamento no início deste ano com algumas demandas e enviei essas reclamações pelo portal da empresa. Gerei alguns números de protocolo e, os que não foram feitos, só fizeram parcialmente. Na minha casa mesmo morreu uma jabuticabeira, cortei os troncos e galhos e solicitei. Depois de um mês foram lá e retiraram só os galhos finos. Depois disso, eu ainda levei uma notificação da Prefeitura ao mutirão que houve em fevereiro."

Sobre a varrição mecanizada, Lemos relata que viu o serviço poucas vezes neste primeiro ano da empresa, todas elas na região da Avenida T-63. "Sobre coleta de lixo e seletiva, tenho inúmeros relatos, em nosso perfil no Instagram, dos moradores indicando que tem semana que não passou ou que passou numa rua e não passou na outra", diz. A Associação Pró-Setor Sul (Aprosul) afirma que no bairro também não há serviço regular e eficiente do consórcio, com algumas ruas ficando sem coleta domiciliar ou seletiva, com inconstância na execução. Relatos de irregularidade também foram verificados junto a moradores dos setores Jaó, Santa Genoveva, Vila Nova, Rodoviário, Cidade Jardim, Bueno, Oeste, Centro, Negrão de Lima e Bairro Feliz. Apenas no Jardim Goiás a reportagem recebeu relatos de que o serviço estava regular.

De acordo com a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra), a pasta "realiza medições mensais por meio de Instruções Normativas". Informa que "a equipe de fiscalização acompanha continuamente a execução dos serviços e o cumprimento do contrato, garantindo que tudo esteja em conformidade com as normas vigentes". O Limpa Gyn considera que "durante um período de 2024, o foco principal do Consórcio foi tirar a cidade da crise do lixo, momento que ruas inteiras se encontravam lotadas de lixo domiciliar". A empresa afirma que isso ocorreu em todos os bairros e que o objetivo foi cumprido ao tornar a cidade habitável. Complementa ainda que a coleta domiciliar é realizada de acordo com o bairro, sendo a rota monitorada por uma torre de controle, "que dá garantia da execução do serviço".

Em março, aumento da coleta foi de 29% - No mês de março de 2024, com serviço ainda realizado pela Comurg, a coleta domiciliar e seletiva em Goiânia somaram 37.781,29 toneladas, sendo 35.252,79 do primeiro tipo e 2.528,50 de material reciclável. Já neste ano, o serviço executado pelo consórcio Limpa Gyn coletou 29,6% a mais de material, sendo 46.523 toneladas de resíduos domiciliares e 2.472,94 na coleta seletiva. Em um ano de atuação do consórcio, este foi apenas o segundo mês em que o total coletado ultrapassou o volume realizado pela Comurg -- o outro havia sido em fevereiro. Os números de abril ainda não foram finalizados. Em janeiro, por exemplo, a Comurg coletou, em 2024, 8 mil toneladas a mais do que o Limpa Gyn em 2025.

De acordo com o consórcio, o volume médio atualmente gira em torno de 42 mil toneladas. "O trabalho foi seccionado por etapas, ou seja, já era esperado menor volume no início, pois estávamos fazendo só uma parcela da cidade na época", informa a empresa. Válido lembrar que a entrada do consórcio na limpeza urbana se deu por partes, começando em abril de forma compartilhada com a Comurg e apenas em julho tendo o serviço inteiramente terceirizado. Sobre a coleta seletiva, o Limpa Gyn afirma que o volume está crescente. "O serviço tornou-se oficial em outubro de 2024. Em dezembro, completamos o serviço e melhoramos a operação. Estamos mensalmente atingindo as metas."

Os números instituídos como metas contratuais constam no processo licitatório para a contratação da empresa terceirizada, que passou por atualização. A base foi o volume coletado em outubro de 2022, em que se exigia 35.001,59 toneladas de coleta domiciliar, 2.150 toneladas de coleta seletiva, 55.266,17 toneladas de entulhos e 22.184,58 quilômetros de varrição mecanizada. O consórcio informa que as metas no início do contrato, que permanecem as mesmas, são iguais ao processo licitatório quanto à varrição, mas a coleta domiciliar é de 35.679 toneladas, 2.601 toneladas na coleta seletiva e 70.409 toneladas de remoção de entulhos, e que todas elas são cumpridas.

Sobre a frota de caminhões utilizada para o serviço, o Limpa Gyn aponta que em julho de 2024 utilizava um total de 20 caminhões, sendo divididos entre baús e selectolix (compactador), enquanto que atualmente são utilizados 24 caminhões entre os dois tipos. Já a Comurg, segundo a companhia, tinha em abril de 2024 um total de 49 caminhões para a coleta domiciliar, sendo 28 do tipo truck e 21 do tipo toco. Já a coleta seletiva era feita com um total de 20 caminhões do tipo baú. É válido ressaltar que o dimensionamento da frota deve ser feito em relação ao volume de resíduos de capacidade, o que não foi informado pelas empresas.

Outra mudança ocorrida neste período de um ano foi o valor contratual. Segundo a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra) dois aditivos já foram feitos no contrato entre a Prefeitura e o Consórcio Limpa Gyn. O POPULAR conseguiu identificar apenas o primeiro deles no Portal da Transparência da Prefeitura de Goiânia. O novo acordo foi em dezembro do ano passado com um acréscimo de R$ 575.876,64, equivalente a 2,94% de aumento. O valor total do aditivo foi de R$ 13.821.040 e, com isso, o contrato reprogramado passou a ser de R$ 484.153.617, sendo que, na época, o saldo contratual era de R$ 359.997.206,48. Sobre o assunto, consórcio firmou que é norma interna da empresa não falar sobre valores.

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