
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), deve
apresentar, no começo de maio, um projeto de lei que altera as punições para os
envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. A iniciativa, construída
em conjunto com a Câmara dos Deputados e com o Supremo Tribunal Federal (STF) —
e que também conta com a bênção do Palácio do Planalto —, visa reduzir as penas
impostas aos executores da tentativa de ruptura democrática. Mas,
simultaneamente, agrava as punições daqueles que futuramente atentarem contra o
Estado Democrático de Direito.
O projeto serviria para sepultar o projeto da anistia apresentado pela
oposição, que pode favorecer o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros apontados
pelas denúncias da Procuradoria-Geral da República (PGR) como chefes e
beneficiários da tentativa de golpe de Estado que impediria o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva de assumir o governo. O texto, inclusive, começará a
tramitar pelo Senado. Em mais de uma oportunidade, Alcolumbre deixou claro que
o projeto da anistia como elaborado pelos bolsonaristas não era de
"interesse do país" e teria dificuldades para andar na Casa, caso
fosse aprovado na Câmara.
A proposta em construção favoreceria os chamados "peixes
pequenos" do golpe, que se beneficiariam do princípio do direito de que a
lei somente retroage para favorecer o réu. Pelo texto, haveria uma recalibragem
da legislação atual, promovendo uma individualização mais precisa das penas.
Isso quer dizer que executores de condutas menos graves — como as invasões e
vandalismo às sedes dos Três Poderes, por exemplo — poderão ser beneficiados
com penas reduzidas ou flexibilizadas para o regime semiaberto ou domiciliar de
prisão.
Já o endurecimento das penas, como prevê o texto que vem sendo elaborado,
será aplicado a futuros casos de tentativas de ruptura da institucionalidade
democrática. Isso porque prevalece o princípio do direito de que a lei não
retroage para prejudicar, o que leva a nova legislação a não alcançar aqueles
já tornados réus — como Bolsonaro.
Estratégia
- A articulação comandada
por Alcolumbre e apoiada por Hugo Motta tem tudo para neutralizar a pressão
para a aprovação da urgência na tramitação do PL da Anistia, parado na Câmara
porque o presidente da Casa considera não tratar-se de uma pauta de interesse
do país e que não conta com o apoio do Colégio de Líderes. Como pano de fundo
está a preocupação com a responsabilização do Legislativo ao abrir espaço para
a impunidade de crimes contra o funcionamento das instituições democráticas.
A oposição na Câmara, por sua vez, tenta manter a pressão pelo PL da
Anistia e promete intensificar a obstrução das votações. Líderes oposicionistas
acusam o governo e o comando da Casa de desrespeitarem a maioria que apoia a
suspensão das punições aos golpistas — daí por que prometem atrasar a tramitação
de projetos com requerimentos regimentais.
O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), que na semana passada esteve com Hugo Motta, havia anunciado que a oposição voltaria a obstruir parte dos trabalhos até que a presidência da Casa marcasse a data de votação da urgência.