
Deputados do partido Novo querem convocar o
ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, para dar
explicações sobre a ONG “Pacto Social & Carcerário de S P”. A entidade é
acusada pela Polícia Civil de São Paulo (PCSP) e pelo Ministério Público do
Estado de ligação com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
Dirigentes da entidade participaram de
reuniões com os ministérios da Justiça e dos Direitos Humanos no governo Lula,
além do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Os ministérios confirmaram as reuniões. A
ONG Pacto Social & Carcerário foi chamada para tratar de um plano para
mitigar as más condições das prisões brasileiras, e também para apresentar
reclamações sobre as más condições de alimentação na prisão federal da Papuda,
em Brasília. Já o CNJ disse que o evento do qual a ONG participou foi aberto a
“qualquer cidadão”. O ministro Ricardo Lewandowski não participou de reuniões com
a ONG.
O requerimento de convocação de Ricardo
Lewandowski foi encabeçado pela deputada Adriana Ventura (Novo-SP) e assinado
também pelo deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS). Para que o ministro seja
efetivamente convocado, o requerimento precisa ser votado e aprovado em
plenário por maioria simples – metade dos votos mais um dos presentes.
Geralmente, o governo trabalha para que essas convocações sejam transformadas
em convites.
“Requeremos (…) a convocação do Ministro de
Estado da Justiça e Segurança Pública Enrique Ricardo Lewandowski, para
comparecer ao Plenário desta Casa em data a ser definida, a fim de prestar
esclarecimentos sobre a participação de Organização não Governamental – ONG
vinculada ao Primeiro Comando da Capital – PCC em reuniões com dirigentes do
Ministério da Justiça”, diz o texto do requerimento.
“Causa perplexidade e merece
esclarecimentos o fato de que autoridades do Ministério da Justiça e Segurança
Pública, que tem por responsabilidade a coordenação do Sistema Único de Segurança
Pública e atua no combate ao narcotráfico, no combate à corrupção, à lavagem de
dinheiro e ao financiamento do terrorismo, reúnam-se com pessoas com inquérito
policial em andamento, especialmente quando os indícios levam a estabelecer
relação direita com o Crime Organizado”, dizem os deputados no requerimento.
Na semana passada, a ONG sediada em São
Bernardo do Campo (SP) foi alvo da operação Fake Scream (“Falso grito”),
deflagrada pela Polícia Civil de São Paulo e pelo Grupo de Atuação Especial de
Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Estado de São
Paulo. As investigações sobre a relação da ONG com a facção criminosa começaram
ainda em setembro de 2021, quando a polícia prendeu uma mulher de 26 anos que
tentava entrar com drogas e quatro cartões de memória num presídio em
Presidente Venceslau (SP). Num destes cartões havia um relato das atividades da
ONG destinada à facção.
A presidente da ONG, Luciene Neves; o
marido dela, Geraldo Salles, e mais 10 pessoas foram alvo de mandados de prisão
na operação Fake Scream. Para a polícia, os dois passaram a integrar a facção
criminosa.
“Vale ressaltar que se trata de uma prática
reincidente no Ministério da Justiça que, em 2023, recebeu uma Advogada e a
esposa de um dos líderes do Comando Vermelho no Amazonas, que também chefiava
ONG responsável pela defesa de interesses da facção criminosa, cena que agora
se repete com o tapete vermelho estendido a pessoas ligadas ao PCC”, diz um
trecho do requerimento de convocação apresentado pela oposição.
A última atividade de Luciene com o MJ foi
em 16 de dezembro passado. Ela participou da audiência pública “DICAP em Rede:
Participação Social e Enfrentamento ao Estado de Coisas Inconstitucional nas
Prisões Brasileiras”. No evento, a Secretaria Nacional de Políticas
Penitenciárias (Senappen) do MJ apresentou a várias ONGs o Plano Pena Justa.
Trata-se de uma diretriz elaborada por determinação do Supremo Tribunal Federal
para enfrentar a “grave violação de direitos fundamentais” nas prisões brasileiras.
O MJ pagou R$ 1.827,93 pelas passagens de ida e volta de Luciene de São Paulo
(SP) para Brasília.
No dia 30 de abril passado, Luciene
participou de uma outra audiência pública para tratar do Pena Justa – dessa
vez, promovida pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão de supervisão do
Poder Judiciário, com o MJ. Ela estava acompanhada da advogada criminalista
Janira Rocha, que foi responsável por abrir as portas do Ministério da Justiça
para a ex-ongueira Luciane Barbosa Farias. Como mostrou o Estadão, Janira
recebeu R$ 23.654,00 do Comando Vermelho dias antes das reuniões com Luciane no
MJ.
Fonte - Estadão conteúdo