Para ajudar os candidatos a evitarem
problemas com a Justiça Eleitoral, o advogado Danúbio Cardoso Remy Romano
Frauzino lançou o livro Manual Prático das Eleições 2024. Com pós-graduação em
Direito Público e Eleitoral, e experiência em mais de 600 campanhas, Remy
defende, em sua obra, a importância do dinamismo, da proatividade eleitoral, da
comunicação eficiente e da confiança para garantir eleições limpas.
Com a proximidade do pleito de outubro, os
candidatos devem se atentar para prazos e regras definidos pelo Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), a fim de não incorrerem em erros que possam minar a pretensão
a um cargo político. É preciso observar, por exemplo, pontos cruciais, como o
período para registro de candidaturas, limitação de gastos de campanha, normas
para propaganda em diferentes meios, incluindo redes sociais e a conduta
permitida no dia da eleição.
Além disso, é fundamental estar a par sobre
infrações eleitorais e penalidades, que vão de multas à cassação de mandato e
inelegibilidade. O TSE, juntamente com os Tribunais Regionais Eleitorais
(TREs), atua de maneira rigorosa para coibir práticas como compra de votos,
abuso de poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação.
Nesta entrevista ao Jornal Opção Entorno,
Danúbio enfatiza o papel da Justiça Eleitoral nas próximas eleições e alerta
para os perigos das fake news. Ele também aconselha os candidatos a conhecerem
bem a legislação e normas acerca do pleito, e a investirem em comunicação clara
e verdadeira, estabelecendo uma relação de confiança com o eleitorado.
Paulo Henrique Magdalena – O que o inspirou a
escrever o “Manual Prático das Eleições 2024”?
Danúbio Remy – Na verdade, este
manual prático é uma celebração dos nossos 20 anos na advocacia e dos 14 anos
dedicados ao Direito Eleitoral. Este é um momento oportuno, pois estamos a três
meses das eleições e precisamos orientar tanto os candidatos quanto os
eleitores sobre as regras rígidas da Justiça Eleitoral para as eleições que se
avizinham.
Paulo Henrique Magdalena – Quais são, na
visão do senhor, os maiores desafios de comunicação para os candidatos?
Danúbio Remy – É adaptar a
comunicação às regras das eleições, para não induzir o eleitor ao erro. Então
você não pode criar nenhuma situação artificial. Nós estamos com dois desafios
nessas eleições: um é o enfrentamento das deepfakes. O segundo é a Inteligência
Artificial, que está emergindo. Ainda não sabemos exatamente como ela será
utilizada nessas eleições.
Paulo Henrique Magdalena – Quais práticas de
comunicação o senhor recomenda para campanhas eleitorais?
Danúbio Remy – A comunicação na
eleição é de fundamental importância, porque é por meio dela que se levam as
propostas ao eleitor. É essencial seguir o que está previsto na lei,
apresentando o perfil do candidato, suas qualidades pessoais e levar as
propostas para a população. Além disso, nós temos a propaganda eleitoral
propriamente dita, que deve ser feita dentro dos limites da lei. Na Internet, a
propaganda é mais livre e aberta, mas, ainda assim, deve respeitar as regras
estabelecidas. A propaganda massiva, como a distribuição de santinhos, material
gráfico e cartazes, deve seguir normas específicas quanto à formatação e
tamanho, além de respeitar o que está estipulado na lei.
Paulo Henrique Magdalena – Como os candidatos
podem se preparar para lidar com crises durante a campanha?
Danúbio Remy – É seguindo uma
campanha juridicamente perfeita, de acordo com as regras eleitorais. E,
principalmente, contar com profissionais capacitados em Direito Eleitoral.
Evidentemente, as crises acontecem, especialmente quando há desigualdade no
pleito e o candidato se torna vítima de fake news, enfrentando dificuldades.
Essas situações só podem ser resolvidas por um profissional qualificado.
Portanto, a orientação é que cada candidato siga um conhecimento técnico
específico com as normas eleitorais.
Paulo Henrique Magdalena – Qual o papel das
redes sociais nas campanhas eleitorais modernas?
Danúbio Remy – É de fundamental
importância. Primeiro, nós temos o limite da lei. Precisamos compreender as
limitações impostas pela legislação eleitoral, que cada vez mais limita os
gastos de campanha, as formas de campanha e as formas de propaganda, a qual
está quase totalmente limitada em termos de quantidade, tempo e tamanho. Assim,
as redes sociais oferecem uma plataforma mais livre e gratuita para os pré-candidatos.
Além disso, a propaganda nas redes sociais, salvo quando feita por meio de
impulsionamento, não precisa ser contabilizada nas prestações de contas. Ela é
feita de forma mais livre e a forma mais rápida de chegar ao conhecimento do
eleitor. Entretanto, é necessário seguir algumas regras: não é permitido fazer
disseminação em massa nas redes sociais, contratar grupos de pessoas para
disseminação, ou criar bots artificiais que induzem o eleitor ao erro.
Portanto, é essencial respeitar também os limites da legislação eleitoral.
Paulo Henrique Magdalena – Como a
judicialização das eleições influencia o planejamento das campanhas?
Danúbio Remy – A judicialização é cada vez
mais forte, porque a Justiça Eleitoral vem tutelando a igualdade e a isonomia no
pleito eleitoral. Temos mecanismos fortes, por meio de canais de denúncia, e o
Ministério Público desempenha um trabalho intenso de fiscalização para manter a
igualdade do pleito. Então, quanto ao planejamento, aquela campanha que tem uma
estratégia que não seja condizente com a lei, vai ter um maior problema de
judicialização. Eu vejo que a judicialização é necessária para tutelar o bem
jurídico, que é a democracia, e o sufrágio universal, que é a vontade do
eleitor.
Paulo Henrique Magdalena – Como os candidatos
podem equilibrar a necessidade de visibilidade com as restrições legais?
Danúbio Remy – Na campanha, temos
regras rígidas para a propaganda eleitoral. O tamanho da propaganda impressa,
por exemplo, pode ser no máximo de meio metro quadrado. Quanto à quantidade, a
distribuição do material deve ser proporcional ao número de cabos eleitorais,
caso contrário, pode haver problemas na prestação de contas. Em relação aos
gastos financeiros de campanha, existe um limite que deve ser seguido, mantendo
a proporcionalidade com a campanha. Um candidato que gasta demais e não obtém
votos suficientes, por exemplo, acaba ficando desproporcional. É importante
seguir essas regras, mantendo a razoabilidade e a proporcionalidade, tanto nos
gastos eleitorais, quanto nas modalidades de propaganda permitidas.
Paulo Henrique Magdalena – Quais mudanças o
senhor acredita serem necessárias na legislação eleitoral para as futuras
eleições?
Danúbio Remy – Nós tivemos uma
expectativa de reforma eleitoral que não aconteceu, seguindo o princípio da
anualidade eleitoral. Todas as mudanças nas regras devem ocorrer um ano antes
das eleições. Como não houve, as regras de 2024 são praticamente as mesmas de
2022. Para 2026, espera-se que haja algumas alterações devido à reforma eleitoral.
Por exemplo, com o fim das coligações, vamos ter um cenário negativo em relação
ao quantitativo de candidatos e ao atingimento do coeficiente eleitoral. Então
há uma desproporcionalidade com relação a isso. Atualmente, um partido pode
lançar até cem por cento mais um candidato do número de vagas na Câmara. No
caso de Valparaíso, por exemplo, temos 13 vagas para vereadores, então é
possível lançar 14 candidatos, sendo cinco mulheres e nove homens. Como
Valparaíso tem um coeficiente eleitoral próximo a 5 mil votos e porque temos
mais de 90 mil eleitores, esses 14 candidatos provavelmente não atingirão os
cinco mil votos. Portanto, a maioria será eleita pelas sobras partidárias, o
que pode ser problemático.
Paulo Henrique Magdalena – Como as fake news
podem afetar as próximas eleições nos municípios do Entorno?
Danúbio Remy – As fake news, segundo o
ex-presidente do TSE, Alexandre de Moraes, são o maior desafio para essas
eleições, seguidas do preenchimento da cota de gênero. No Entorno,
principalmente, porque você tem uma grande utilização dos meios de comunicação
social. Muitos municípios não têm TV própria, então não tem propaganda de TV. A
informação acaba chegando pelo WhatsApp. Hoje, a Justiça Eleitoral está
bastante célere em relação a isso. As representações são julgadas no prazo de
48 horas e, principalmente, as plataformas, chamadas big techs, estão sendo
tuteladas pela Justiça Eleitoral, para poder retirar a propaganda negativa ou
falsa no prazo de 24 horas. É com a judicialização que a Justiça Eleitoral, por
meio da legislação eleitoral, já reconhece a fake news como crime. Deixou de
ser alvo da justiça comum para a justiça especializada. Agora, desinformação
você combate com informação. O maior instrumento que nós temos é a própria
comunicação para combater a desinformação.